Dirigir o documentário "Vida sobre Rodas", que estreia no país nesta sexta-feira (26), foi, para Daniel Baccaro, uma viagem ao seu próprio passado – mas com um pé no presente e um olho no futuro. Ele começou a praticar o esporte aos 9 anos de idade. Agora, mais de duas décadas depois, o filme lhe permitiu rever amigos e lembrar de episódios. É um prazer, mas também um desafio. “Precisei me policiar muito para não tornar o filme extremamente pessoal. Muitas vezes tive de me afastar do processo, especialmente na montagem, e confiar no trabalho do [montador] Willem Dias”.
O projeto, no qual Baccaro trabalha desde novembro de 2004, inclui não apenas entrevistas com os principais nomes do skate brasileiro e estrangeiro - como Bob Burnquist, Sandro Dias, Cristiano Mateus e Lincoln Ueda, e estrangeiros, como Christian Hosoi, Lance Mountain e Tony Hawk – mas também imagens de arquivo da década de 1980, que o documentarista lembrava que pais de seus amigos tinham feito. “Ficamos mais de 3 anos catalogando o material. Foi preciso inclusive fazer restauro de filmagens e fotografias”. No filme, é possível ver todos os brasileiros ainda jovenzinhos, em começo de carreira.
Como Baccaro destaca, o filme mostra uma época em que o skate no Brasil começou a ganhar força. “Foi um período de transição. O skatista começou a mostrar a que veio, o esporte ganhou respeito. Agora é o segundo mais forte no Brasil – só perde para o futebol. Mas, apesar disso, sempre tivemos um lado meio punk, transgressor, de ir contra ao sistema.”
Apesar da amizade ter se mantido ao longo desses anos entre alguns dos entrevistados e o diretor, Baccaro conta que sites de relacionamento ajudaram num verdadeiro trabalho de detetive para encontrar as pessoas que queria trazer para o filme – todos menos um. “Queríamos falar com o marceneiro que construiu uma das pistas que frequentamos na juventude, mas não conseguimos”, lamenta.
Ainda assim, fora as entrevistas, “Vida sobre Rodas” traz imagens impressionantes de manobras de skate – algumas nas imagens de arquivo, outras captadas especialmente por Baccardo. “O fato de eu ser skatista me ajudou muito na hora de fazer imagens. Eu sabia como me deslocar, como acompanhar os movimentos”.
Baccaro explica que o nome de Burnquist foi fundamental para chegar até os entrevistados estrangeiros. “Bob estava produzindo o filme de ‘The Reality of Bob Burnquist’, de Jamie Mosberg, e decidimos que o próprio Jamie seria o produtor ideal para o trecho a ser captado na Califórnia. Ele tem um ótimo relacionamento com a comunidade do skate americano”.
Baccaro ressalta que com “Vida sobre rodas” tenta se comunicar também com os não-skatistas e que teve a preocupação de fazer um filme acessível a todos. Seu documentário é o primeiro longa sobre o assunto no Brasil, e ele confessa também cogitar uma ficção – mas isso é assunto para o futuro. “O skate tem muitos interessados e simpatizantes. Ainda existe o lado transgressor, mas também é algo até bem visto na sociedade moderna”.
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